sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

ACERVO

"a menina do vestido verde" - acrílica sobre tela

"espera" - aquarela


"duas cadeiras" - acrílica sobre tela


"o bazar de bricabraques"

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Rua com armazém rosado


Já se acendem os olhos dessa noite em cada boca de rua, e é como a estiagem farejando chuva. Agora todos os caminhos estão perto, até mesmo o caminho do milagre. O vento traz a aurora entorpecida. A aurora é nosso medo de fazer coisas diferentes e desce sobre nós. Caminhei por toda a santa noite e sua inquietude me deixa nesta rua, uma qualquer. Aqui outra vez esse sossego da planície no horizonte e o terreno baldio que se desfaz em amarantos e arames e o armazém tão claro quanto a lua nova de ontem, tarde. A esquina é familiar como a lembrança com seus longos frisos e a promessa de um pátio. Que bom testemunhar-te, rua de sempre, já que meus dias viram tão poucas coisas! A luz já risca o ar. Meus anos percorreram os caminhos da terra e da água e é só a ti que sinto, rua dura e rosada. Penso se tuas paredes conceberam a alvorada, armazém assim claro no limite da noite. Penso e ganha a voz diante das casas a confissão de minha pobreza: não vi os rios nem o mar nem a serra, mas conviveu comigo a luz de Buenos Aires e eu forjo os versos de minha vida e de minha morte com essa luz de rua. Rua grande e sofrida, és a única música que minha vida conhece.

Jorge Luis Borges . Primeira Poesia

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Coeducar





Está no ar o novo site da Coeducar - Cooperativa Educacional de Viçosa.
Conheça um pouco sobre esta incrível escola. Faça uma visita!

domingo, 1 de novembro de 2009

QU4DROS


Exposição Coletiva Qu4dros


Local: Pinacoteca da Universidade Federal de Viçosa

Data: 12 de novembro a 18 de dezembro de 2009

Artistas:
Oswaldo Santana, José Antônio Sant´Anna, Sérgio Ramos e Vitor Emanoel

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Elomar


“Como os filhos do vento, um dia lá pelos confins do saldoso seclo XX, ele aportou na Casa dos Carneiros, era um minguante de lua de maio, me lembro. Não vinha só, trazia aos ombros um alaúde firmado pela dextra e um lírio na sinistra mão que falava de caminhos, veredas e estações perdidas... tendo os rastros recalcados pelos pequenos pés de peregrina monja. E renitente no instrumento empoeirado pincelou um campo de flores djaniras roxos lírios das vazantes primaveris, por quanto o balido das ovelhas e bodejantes pais-de-chiqêro... que não mais vale a pena cantar nos albores deste seclo, pelasclaras do milênio na morada dos surdos! Não mais adianta a semeadura se o campo é de pedras... “Lajedo imenso é o chão”. Que cesse a voz núncia; é tempo de silêncio dos arautos, dos que anunciam a guerra e que proclamam a paz. Não adianta! Esqueça caminheiro errante, emudeça-te, ponha a mordaça, queda-te à beira do caminho e ouça no silêncio os teus idos amados na voz suave do Senhor dos Exércitos trazida pelas vibrações da tarde. Assim como os de outros que não conhecemos, os teus, os meus, não têm mais lugar cantares nestes dias. Neste mundo da coisa emergente onde a canalha triunfante altissonantemente discursa, manuseia e urra no funeral da forma.”
Lagoa dos Patos – na faixa proterozáica – Elomar – 2005

Este texto foi retirado da contracapa do cd de Roberto Bach, que em um dia que vai longe, apareceu no Atelier com um violão, tocou um Jethro Tull, disse que não existe mais espaço para os menestréis nas universidades, que é um dos últimos verdadeiros vagabundos e trocou o cd por um desenho meu.

sábado, 24 de outubro de 2009

Uma Tranquila e Bucólica Tarde de Domingo


O porquê de relembrar no momento exato ao acordar, mais cedo que o costume, do sonho-realidade em que estava literalmente passeando por um dos andares de uma grande casa, ou navio, ou por uma das espaçosas varandas do purgatório. Estavam dezenas de pessoas deitadas em sofás velhos, cada uma com um pequeno grupo da sua própria família. Vi a minha. De pessoas que já morreram cuidando das que estavam quase. Olhei e achei interessante. Continuei o passeio com as mãos entrelaçadas às costas. Não tinha mais nada que fazer, pois não pertencia àquele lugar, era somente um visitante. Depois do almoço, das louças lavadas, ouço Camargo Guarnieri em seus concertos profundamente tristes, ora nem tanto. A boxer me olha com olhos esbugalhados e sapientes. O que ela sabe que não sabemos? O fagote volta a tona e se mistura com o som do raspar das folhas. Cai a tarde. Amanhã serão os telefonemas e os impostos: outro tipo de sonho. Virgínia Woolf morreu por não aguentar o contínuo prazer de escrever palavra por palavra, saboreando-as como um bom vinho ou uma fumaça que evola redondamente do cachimbo. Está quase impossível achar alguém que ame o silêncio. Depois de ouvir o matinas de finados do padre José Maurício Nunes Garcia e de ler os textos de manifestos da revista De Stijl, onde “para o escritor moderno, a forma terá uma significação diretamente espiritual, ele não descreverá nenhum acontecimento, não descreverá nada: escreverá. A poesia asmática e sentimental – o eu e o ele – que é perpetrada em toda parte e principalmente (...), um resíduo fermentado de um tempo velho e que nos enche de tédio”, na tradução de Goulart de Andrade, penso em reescrever o início deste texto como se eu fosse mais um fantasma, ou seja, mais um passageiro daquela dita mansão. Aguardo o rocambole de goiabada ficar pronto: com receita transcrita para o velho caderno carcomido (perceberam o chiste?) e longe, em outro bairro, ouço de um falante rachado, a voz de uma música perversa que não é música, é só “tecnologia a serviço do lixo”. Também esse ruído da batedeira é ingrato, mas vale a goiabada vermelha e pastosa que logo vai virar lembrança. Desci à matinha, ar cheio de pernilongos. Tenho saudades do atelier que nunca tive. Acho que as maritacas irão fazer os seus ninhos lá. A boxer sumiu e o caminhão de brinquedo ficou sozinho, esquecido no cimentado, pois hoje é dia de aniversário do inimigo. Outro silêncio. O som surdo dos latidos dos cachorros vizinhos fazem as folhas balançarem.

sábado, 10 de outubro de 2009

José Saramago por Umberto Eco


Curioso personagem, este Saramago. Tem 87 anos e (diz ele) algumas moléstias. Ganhou o Nobel, distinção que lhe permitiria nunca mais produzir nada porque seja como for já tem no Panteão o seu lugar garantido (o avarento Harold Bloom definiu-o “o romancista mais dotado de talento ainda em vida… um dos últimos titãs de um gênero literário em vias de extinção”). Mas eis que o vemos mantendo um blog onde se mete com toda gente, atraindo para si polêmicas e excomunhões vindas de muitos lados – mais frequentemente não por dizer coisas que não deve dizer mas porque não perde tempo em medir as palavras – e talvez o faça de propósito.
Mas, precisamente, ele? Ele que cuida da pontuação ao ponto de fazê-la desaparecer. Ele, que na sua crítica moral e social jamais afronta os problemas de cara, mas poeticamente os contorna nos modos do fantástico e do alegórico, de modo que o seu leitor terá de pôr algo de si para compreender até onde vai parar – como no seu Ensaio sobre a Cegueira –, em que faz o leitor viajar numa névoa leitosa em que nem sequer os nomes próprios, de que é bastante parco, dão um sinal claramente reconhecível? Ele, que no Ensaio sobre a Lucidez faz uma opção política decidida com base em enigmáticos votos em branco? E é este escritor fantasioso e metafórico vem nos dizer, despreocupadamente, que Bush é de “uma ignorância abissal, e uma expressão verbal confusa perenemente atraída pela irresistível tentação do puro despropósito”, um cowboy que confundiu o mundo com uma manada de vacas, que não sabemos sequer se pensa (no sentido nobre da palavra), robô mal programado que constantemente mistura mensagens que tem registradas lá dentro, mentiroso compulsivo, corifeu (NT – o chefe do coro nas antigas encenações de tragédias gregas) de todos os outros mentirosos que o aplaudiram e serviram nos últimos anos? E é este delicado tecelão de parábolas que usa palavras que não deixam margem para dúvidas quando define o dono da editora que o publica? E é este ateu manifesto, para quem Deus é “o silêncio do universo e o homem o grito que dá sentido a este silêncio”, o que recoloca Deus outra vez em cena para se interrogar sobre o que pensa Ratzinger? É quem, militante comunista (ainda tenazmente), põe-se a gritar que “a esquerda não tem a menor ideia do mundo em que vive”? É quem se arrisca à acusação de anti-semitismo por ter criticado a política do governo de Israel, simplesmente esquecendo-se, na sua irada participação nas desventuras palestinas, de se lembrar que há quem negue o direito à existência de Israel? Mas ninguém leva em conta que, quando fala de Israel, Saramago pensa em Javé, “Deus rancoroso e feroz”, e neste sentido não é mais anti-semita do que anticristão, dado que para todas as religiões procura ajustar contas com Deus – que evidentemente, chame-se como se chamar nas várias línguas, não cessa de importuná-lo. E ser importunado por Deus é certamente motivo de ira furibunda contra todos os que dele fazem um escudo.
Se tivesse sempre em conta os prós e os contras, Saramago também saberia que há maneiras e maneiras. Cito (de memória) (Jorge Luís) Borges, que citava (talvez de memória) o doutor Johnson, que citava o caso de fulano que insultava assim o adversário: “Senhor, a vossa mulher, com a desculpa de gerenciar um bordel, vende tecidos de contrabando.” Saramago, pelo contrário, não faz cerimônia. Quer dizer, deixa os rodeios e não manda dizer por outro na sua atividade de comentador diário da realidade. Vai à desforra sobre todo devaneio oblíquo de quaisquer fabulações.
Tem-se falado muito do ateísmo militante de Saramago. De fato, sua polêmica não é dirigida a Deus: uma vez admitindo que “sua eternidade é só a de um eterno não-ser”, Saramago poderia estar sossegado. A sua aversão é contra as religiões (e é por isso que o atacam de vários lados, negar Deus é concedido a todos, enquanto polemizar com as religiões põe em causa as estruturas sociais). Em uma ocasião, estimulado por uma das intervenções anti-religiosas de Saramago, refleti sobre a célebre definição marxista, para quem a religião é o ópio do povo. Mas será verdade que as religiões têm esta virtude soporífera? Saramago tem atacado as religiões como germe de conflito: “As religiões, todas sem exceção, nunca servirão para aproximar e reconciliar os homens. Pelo contrário, foram e continuam a ser causa de sofrimentos indescritíveis, de chacinas, de uma monstruosa violência física e espiritual que constituem um dos mais tenebrosos capítulos da mísera história humana” (La Repubblica, 20 de Setembro de 2001).
Saramago concluía em outra parte que “se fôssemos todos ateus, viveríamos numa sociedade mais pacífica”. Não tenho certeza de que tenha razão, e parece que indiretamente teria respondido a ele o papa Ratzinger na encíclica Spe salvi, em que dizia que é o ateísmo dos séculos 19 e 20 que provocou que “de tal premissa tenham resultado as maiores crueldades e violações da justiça”.
Talvez Ratzinger estivesse pensando em gente descrente como Lênin e Stalin, mas se esquecia que nas bandeiras nazis estava escrito Gott mit uns (que significa “Deus está conosco”), que falanges de capelães militares benzeram os arruaceiros fascistas, inspirados em princípios religiosíssimos e apoiados nos Guerrilheiros do Cristo-Rei, um culpado de tantos massacres como Francisco Franco, que religiosíssimos eram os vandeanos (NT – na França, por volta de 1790, camponeses, monarquistas e religiosos tentaram deter a revolução republicana. Eram chamados vendeanos, porque eram de uma província do interior da França chamada Vendéia) eram contra os republicanos, que católicos e protestantes se massacraram alegremente durante anos e anos, que tanto os cruzados como os seus inimigos eram impelidos por motivações religiosas, que por razões religiosas se acenderam inúmeras fogueiras, que religiosíssimos são os fundamentalistas muçulmanos autores do atentado das Torres Gêmeas, Osama e os talibãs, que por razões religiosas se opõem Índia e Paquistão, e, para terminar, que foi aos gritos de God Bless America que Bush invadiu o Iraque.
Por tudo isso me pus a refletir que sim, talvez em muitas ocasiões foi ou é a religião o ópio do povo e com maior frequência tem sido a sua cocaína. Creio que esta é também a opinião de Saramago.
Escrevo este prefácio porque acredito ter uma experiência comum com o amigo Saramago, que é a de escrever livros (por um lado) e ter (por outro) uma coluna de críticas de costumes em um semanário. Por ser este segundo tipo de escrita mais claro e de maior alcance do que o primeiro, são muitos os que me perguntam se o que faço é extravasar peças jornalísticas e deixo as reflexões mais desenvolvidas e amplas para os livros maiores. Não. É o impulso de irritação, a dica satírica, a chicotada crítica escrita à pressa, que fornecerá a seguir o material para uma reflexão ensaística ou narrativa mais elaborada. É a escrita diária que inspira as obras de maior empenho, e não o contrário.
E, por isso, eu diria que em seus breves escritos, Saramago continua a fazer a experiência do mundo tal como desgraçadamente ele é, para depois revê-lo a uma distância mais serena, sob a forma de moralidade poética. E, ademais, estará realmente sempre assim tão zangado este mestre da filípica e da catilinária? Parece-me que além da gente que ele odeia também existe a gente que ele ama, e eis as peças afetuosas dedicadas a Fernando Pessoa (não se é português em vão) ou a Jorge Amado, a Carlos Fuentes, a Federico Mayor, a Chico Buarque de Hollanda, que nos mostram que este escritor é pouco invejoso dos colegas e sabe tecer-lhes delicadas e ternas miniaturas.
Para não falar de quando a análise da atualidade vai a temas (e aqui estamos de volta aos grandes assuntos da sua narrativa) como os grandes problemas metafísicos, a realidade e a aparência, a natureza da esperança, como são as coisas quando não estamos olhando para elas. E volta à cena o Saramago filósofo-narrador, já não zangado, mas meditativo e inseguro. Contudo, não nos desagrada mesmo quando se enfurece. É ainda mais simpático.


Umberto Eco é escritor. Este texto é o prefácio à edição italiana de O Caderno, obra que reúne os comentários que o escritor português, vencedor do Nobel, publicou em seu blog até março de 2009. O texto foi publicado originalmente no jornalLa Reppublica e, posteriormente, no El Pais. Foi traduzido do italiano para o espanhol por Carlos Gumpert e do espanhol para o português por Olímpio Cruz Neto.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Tempo


Eu não amava que botassem data na minha existência. A gente usava mais era encher o tempo. Nossa data maior era o quando. O quando mandava em nós. A gente era o que quisesse ser só usando esse advérbio. Assim, por exemplo: tem hora que eu sou quando uma árvore e podia apreciar melhor os passarinhos. Ou: tem hora que sou um rio. E as garças me beijam e me abençoam. Essa era uma teoria que a gente inventava nas tardes. Hoje eu estou quando infante. Eu resolvi voltar quando infante por um gosto de voltar. Como quem apreça de ir às origens de uma coisa ou de um ser. Então agora eu estou quando infante. Agora nossos irmãos, nosso pai, nossa mãe e todos moramos no rancho de palha perto de uma aguada. O rancho não tinha frente nem fundo. O mato chegava perto, quase roçava nas palhas. A mãe cozinhava, lavava e costurava para nós. O pai passava o seu dia passando arame nos postes de cerca. A gente brincava no terreiro de cangar sapo, capar gafanhoto e fazer morrinhos de areia. Às vezes aparecia na beira do mato com as sua língua fininha um lagarto. E ali ficava nos cubando. Por barulho de nossa fala o lagarto sumia no mato, folhava. A mãe jogava lenha nos quatis e nos bugios que queriam roubar nossa comida. Nesse tempo a gente era quando crianças. Quem é quando criança a natureza nos mistura com as sua árvores, com as suas águas, cm o olho azul do ce. Por tudo isso que eu não gostasse de botar data na existência. Por que o tempo não anda pra trás. Ele só andasse pra trás botando a palavra quando de suporte.

Manoel de Barros Memórias Inventadas A Segunda Infância

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Camaleão na sombra da noite II


De um pequeno e raro livro, seguem algumas traduções de Alexandre Vargas, de Portugal, dos poemas de Peter Hammil e também dos Van der Graaf Generator, que serão aqui postados de tempos em tempos.

Uma Praga de Faroleiros

1) Testemunha ocular

Ainda á espera do meu salvador, tempestades me desfazem membro a membro, os dedos parecem-me algas, estou tão longe estou demasiado dentro. Eu sou um homem só, a minha solidão é real, os meus olhos nasceram testemunhas desoladas e agora os meus cavalos também estão contados: vi as linhas das mãos dos mortos, as estrelas brilham mas não para mim. Profetizo catástrofes e então considero o preço, brilho, mas a brilhar a morrer, sei que estou quase perdido. Papel branco jaz na mesa e a minha torre é de pedra, apenas tenho tesouras rombas, apenas tenho o lar mais pobre. Eu fui testemunha e o selo da morte detém-se na onda derretida que é a minha cabeça. Quando vires os esqueletos dos mastros dos veleiros a afundar, começarás a pensar se os temas de todos os mitos antigos não serão solenemente dirigidos direitinhos a ti.

2) Imagens / Farol

3) Testemunha Ocular

Há mito que passaram todas as oportunidades de nos arrependermos. As paredes são finas como pano e, se eu falar, quebrarei os vidros. Por isso, apenas penso em como poderia isso ter sido, fechado num monólogo silencioso, num calado grito. Estou demasiado cansado para falar e enquanto as ondas rebentam no ermo começo a misturar pedras da torre e chego à conclusão de que fui vencido.

4) S. H. M.

“Irreal, irreal” gritam fantasmas com elmos e caem pelo céu afora. Não atravessam os meus guinchos de gaivota, nenhuma pausa até que eu morra. Os espectros arranham nas janelas esvaziadas faces, sorrisos esquecidos, apenas tentando destruir o que perderam. Rastejo parede acima até que acabe o grau de inclinação em queda vertical. O meu balde pôs-se ao largo no mar, nada de esperanças ridículas na madrugada! Brilha o branco osso na máscara de goelas de ferro. Gajeiros perdidos, perfuram a escuridão paralisante, paralelos à minha isolada torre, sem parafina para flama, sem porto a alcançar.

5) Presença da Noite

“Solitário, solitário”, chamam todos os fantasmas, alvejam-me na luz, a única vida que sinto é a presença da noite. Chorarias se eu morresse? Compreenderias a minha última palavra? Perceberias as minhas palavras? Sei que não há tempo, sei que isso não significa nada, falsos sinais me encontram. Não quero odiar. Apenas quero crescer, por que razão não consigo deixar-me viver e ser livre – antes me deixo lentamente morrer? De mais caminhos não sei, tenho tanto medo, não me deixo ser apenas eu mesmo e assim estou completamente só.

6) Excursão Kosmos

O maelstrom da minha memória é um vampiro e de mim se alimenta assim, escrevinhando loucamente sobre o clarão, caio.

7) O Último Quiosque (de creme de leite e ovos)

Podem os faróis iluminar a chave, mas conseguirei eu encontrar a porta? Quero andar por sobre o mar para que mais depressa atinja a costa, como poderei então eu alguma vez manter os pés secos? Perscruto o horizonte, devo vigiar tudo o que me constitui. Olhando para trás no tempo sei que perdi o rumo; corri para o abrigo como um cão; sou agora o estranho que sou... Ah, bem. Toda aflição que eu conheci me deixa à procura de uma paz solitária, mas tenho experiência na cabeça, estou demasiado perto da luz, não creio que veja bem, pois me cego a mim mesmo...

8) O Coágulo Engrossa (as coisas complicam-se)

Onde está o deus que guia a minha mão? Como poderão alcançar-me as mãos dos outros? Quando encontrarei aquilo que procuro? Quem é que me vai ensinar? Eu sou eu. Sou nós. Não conseguimos ver nenhuma saída para isto. Mar que rebenta história atrofiada: a sorte perdeu a minha Guinevere. Não quero se uma onda na água, mas o mar me arrastará para o fundo. Mais um afogado perdido. Vejo os Lémingues a chegar, mas sei que sou apenas um homem. Juntar-me-ei a eles ou naufragarei? Qual é a melhor das hipóteses?

9) O Fim da Terra (sinal da linha)

Oceanos a fluir de todos os lados e sou atraído pelas palavras mágicas: sinto-vos à minha volta – conheço agora o poço. Estrelas retalham horizontes onde os tempos demasiado desolados se mantém. Sinto que me afogo – mãos estendem-se na escuridão. Acampamentos de panóplia e majestade, o que é a liberdade de escolher? Em que posição fico eu no desfile, que voz é a minha? Agora já não parece custar tanto – penso que o fim é o princípio... Todas as coisas são uma parte do todo. Todas as coisas estão longe de tudo. Todas as coisas são uma parte do todo.

10) Agora Partimos


Peter Hammill, de “Pawn Hearts”

sábado, 26 de setembro de 2009

Um doutor


Um doutor veio formado de São Paulo. Almofadinha. Suspensórios, colete, botina preta de presilhas. E um trejeito no andar de pomba rolinha. No verbo, diga-se logo, usava naftalina. Por acaso, era um pernóstico no falar. Pessoas simples da cidade lhe admiravam a pose de doutor. Eu só via o casco. Fomos de tarde no Bar O Ponto. Ele, meu pai e este que vos fala. Este que vos fala era um rebelde adolescente. De pronto o Doutor falou pra meu pai: Meus parabéns Seo João, parece que seu filho agora endireitou! E meu pai: Ele nunca foi torto. Pintou um clima de urubu com mandioca entre nós. O doutor pisou no rabo, pensei. Ele ainda perguntou: E o comunismo dele? Está quarando na beira do rio entre as capivaras, o pai respondeu. O doutor se levantou da mesa e saiu com seu andar de vespa magoada.

Manoel de Barros . Memórias Inventadas . A Segunda Infância

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Afterglow


O ocaso é sempre comovente por mais pobre ou berrante que seja, porém mais comovente ainda é o fulgor desesperado e final que enferruja a planície quando o último sol mergulhou. É doloroso manter essa luz tensa e diversa, essa alucinação que impõe ao espaço o medo unânime da sombra e cessa de repente quando notamos sua falsidade, como cessam os sonhos quando sabemos que sonhamos.

Jorge Luis Borges . Primeira Poesia

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Novo Logotipo da Universitária FM 100,7


Foi lançado hoje, oficialmente o novo logotipo para a Rádio Universitária FM 100,7 da FRATEVI e Universidade Federeal de Viçosa. A nova marca é uma forma derivada do logotipo da TV Viçosa que também passou por uma nova reestruturação, retomando a linguagem visual do início da história da TV. O logotipo, que foi o ganhador do concurso há 17 anos, reaparece com a sua forma atualizada e também modernizada.

O conceito do logotipo da Universitária FM 100,7 faz referência ao ambiente “imaterial” da rádio e foi escolhida a forma da parte superior do logotipo da TV para designar metaforicamente o "céu acima das montanhas de minas". Com a inserção de ondas que representam a difusão da comunicação, do tempo e da tecnologia, também simbolizam algumas mídias tais como os discos, cds, alto falantes.

Por Sérgio Ramos

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Blogs + books = Blooks


O Atelier do Arquiteto está com alguns objetos e telas na Blooks Livraria que fica na Praia de Botafogo, 316 no Complexo de Cinemas da Arteplex
Telefone: (21) 2559 8776 Rio de Janeiro – CEP 22250-040
Horário de funcionamento: de segunda a domingo, das 12h às 22h.
Vale uma visita!

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Camaleão na sombra da noite I


Ganhei um pequeno e raro livro de um amigo que sabe tudo de rock progressivo, foi lançado em Portugal em edição de abril de 1990. Seguem algumas traduções dos poemas de Peter Joseph Andrew Hammil e também dos Van der Graaf Generator, que serão postados de tempos em tempos aqui no Blog e “que falam muitas vezes de si como que ilustrando um exemplo de situações da vida levadas ao extremo do arquétipo e, entre as influências principais, podemos encontrar o sentimento trágico de Nietzsche, Beckett e o seu teatro do absurdo, Shakespeare e Jorge Luis Borges, que diz que “o Inglês é, ao mesmo tempo,uma língua latina e uma língua germânica. Freqüentemente há duas palavras para designar a mesma coisa, uma mais sensível, outra mais intelectual. Olhe, dark significa escuridão física e obscure é escuridão mental. Room e space não têm exatamente o mesmo sentido nem designam a mesma coisa.”” (Alexandre Vargas, Assírio & Alvim)

Nota do tradutor

Se, por um lado, qualquer tradução de um texto perde alguma coisa em relação à língua em que esta foi originalmente escrito, por outro alguma coisa poderá também ganhar. Assim nos pareceu acontecer com estes poemas de Peter Hammill, que se ajustam com surpreendente frescura à Língua Portuguesa. A eles procuramos ser o mais fiel possível, da única maneira que nos pareceu natural: recriando-os por vezes livremente, dentro do espírito em que o autor os escreveu.


O Guerreiro

O assassino vive dentro de mim: posso senti-lo quando se mexe. Às vezes está a dormir levemente no sossego do seu quarto. Mas os seus olhos, de repente, abrir-se-ão e através dos meus fitarão: falará com as minhas palavras e retalhar-me-á o pensamento por dentro... o assassino vive.

Os anjos vivem dentro de mim: posso sentir-lhes o sorriso. A sua presença afaga e tranqüiliza a tempestade na cabeça. E o seu amor pode sarar as feridas que fiz. Observam-me no momento em que vou cair – sei que serei agarrado porque os anjos vivem.

Como poderei ser livre?
Como poderei ser ajudado?
Será que eu serei eu mesmo?
Ou será que serei outro?

Mas, vagueando nos meus claustros, pairam os acólitos das trevas e a Cabeça da Morte atira o manto para o canto do meu quarto. E fico fadado. Mas, rindo no pátio, brincam os meus companheiros de juventude e, solene, um velho à espera no telhado da casa – fala a verdade...

Eu, também, vivo dentro de mim e muitas vezes não sei quem sou; sei que não sou nenhum herói – espero não estar amaldiçoado.

Sou apenas um homem e assassinos, anjos, todos eles são: Ditadores, Salvadores e Refugiados na guerra e na paz enquanto o homem viver.

Peter Hammill de “Pawn Hearts”

domingo, 13 de setembro de 2009

Um pátio


Com a tarde
cansaram-se as duas ou três cores do pátio.
Nesta noite, a lua, o claro círculo,
não domina seu espaço.
Pátio, céu canalizado.
O pátio é o declive
por onde se derrama o céu na casa.
Serena,
a eternidade aguarda na encruzilhada de estrelas.
Grato é viver na sombria amizade
de um saguão, de uma parreira e de um poço.

Jorge Luis Borges . Primeira Poesia

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

O Papel Roxo da Maçã







A Editora Positivo – empresa do Grupo Positivo, maior corporação educacional do país – lança 30 obras do seu projeto de literatura infantil, o Projeto Zepelim, nas Bienais do Livro de Curitiba e do Rio de Janeiro.
Os novos títulos pertencem às sete coleções do Projeto Zepelim, as quais trabalham níveis crescentes de complexidade de leitura e acompanham o amadurecimento da criança. Obras como “O papel roxo da maçã”, de Marcos Bagno, entram no mercado editorial para estimular o imaginário infantil e despertar diversas sensações nas crianças.
Além da qualidade literária dessas e das antigas obras do Zepelim, a Editora Positivo prima pela excelência da produção de seus materiais. “Para esses lançamentos, contamos novamente com importantes ilustradores. Eles, além dos próprios autores, ao escolherem cores e imagens, permitem que a obra ganhe o atrativo necessário para prender a atenção de uma criança”, ressalta Marcelo Del’Anhol, editor de literatura infantil da editora.
“O papel roxo da maçã”, de Marcos Bagno, é uma das obras que está sendo lançada pela Editora Positivo. Direcionada para crianças a partir de oito anos, a obra faz parte da coleção “De fio a pavio”, que contém textos que exploram a criatividade. Nesse livro, Bagno conta a história de Rosa, uma menina que ganhou do pai uma fruta que ela nunca tinha visto antes: uma maçã. A fruta estava embrulhada num papel de seda roxo. Para o espanto de todos, Rosa colocou o papel junto à orelha e ouviu tudo o que ele lhe contou: onde o pai comprou a maçã, quem a vendeu e quanto custou a fruta. Num outro dia, mesmo sem ainda saber ler, a menina comentou a história que estava dentro de um livro. O mistério é: será que Rosa tinha o dom de adivinhar? Com ilustrações de Sérgio Ramos.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Arturo Carrera


“Só através do esquecimento e da crença na singularidade irredutível, o homem esqueceria também as suas determinações e poderia, mais livremente, deparar-se com o enigma.”

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

O Avesso e o Direito


O Avesso e o Direito

Um passeio de barco pelas Minas Gerais e de mão dadas. Nos arredores de um campo de futebol de várzea, vimos, entre balaios e cestas, uma mulher com pano no cabelo. Cantava versos de roda como os trovadores da capitania. Com seu vestido rodado, preocupava-se com as visitas de um domingo inteiro e com as ladeiras acima e abaixo.


Figura de mulher com lenço florido

Com um ramo de arruda, em uma dialética muda. Jogando conversa fora com um livro de capa verde, cheio de agoras e sabenças. Era um inventário.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Virgínia Woolf


“ O estranho em relação à vida é que, embora sua natureza deva ter sido evidente para todo mundo há centenas de anos, ninguém deixou o registro adequado.”

O Quarto de Jacob, Virgínia Woolf, p.110

domingo, 30 de agosto de 2009

Gino Severini

“A beleza de uma composição depende da maneira como as linhas e os ângulos contrastam e se respondem; mas a dificuldade maior consiste em distribuir bem os pontos de referência, os centros de simetrias e os pesos, para dirigir a vista do espectador para os pontos importantes, proporcionando-lhes repouso, pausas ou intervalos...”.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

A Sesta da Sexta


Da grande janela do segundo pavimento ouço chegar uma ajudantezinha com uma vassoura do tamanho de um banco. Entre todas, esta é a vassoura certa! Quer ajudar o jardineiro a recolher as folhas secas. Um pequeno muro separa o concreto de uma mata exuberante. Posso colocar neste balde? Chegou um pássaro marrom e vermelho e se instalou em baixo do sofá de couro. A pequena ajudante exclamou e disse que tínhamos agora, mais um filhote para cuidar. Tenho quase tudo para hortas, você pode usar o meu regador! O pássaro assustado se debateu e subiu pela janela e virou mais uma folha entre as árvores. Uma minhoca venenosa! Gritou e subiu no banco de madeira que fez um barulho de madeira. Você sabia que o barro faz bem para as plantas? No mesmo instante uma pomba do mato fez uh-uh. Barulho de folhas secas. Cava, cava, cava. Você devia pegar o barro, sabia? Mas o jardineiro continuava em seu silêncio verde. Sons opacos de cordas de um violão vindos do quarto ensolarado. E, depois do almoço, Nikos Kazantzakis continua passeando pela Grécia no livro fechado, enquanto continuo deitado em almofadões de tecido áspero, sobre um macio colchão, meio que olhando pela janela a luz filtrada pelas árvores e meio que dormindo.

Arquitetura e Pintura


Arquitetura e pintura andam de mãos dadas nas telas de Sérgio Ramos. O artista, que faz trabalhos para design, arquitetura e pintura, deixa entrever em suas obras traços peculiares que revelam a sua identidade, como o uso de tintas com tons terrosos, o equilíbrio e disposição dos objetos, ícones recorrentes nas telas e o desenho medido e meticuloso, mostrando a proximidade com a arquitetura. Trabalhos para decoração, design, arquitetura, ilustração e pintura são algumas das multifacetas da arte bem desenvolvidas pelas mãos de Sérgio Ramos, mas é com as telas que ele melhor revela sua identidade. Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas, em Arquitetura e Urbanismo, conseguiu sua primeira exposição ainda como estudante, em 1990, no espaço do Cineclube cedido pela universidade. Dentre outros prêmios, o artista lembra de um que ganhou, pela categoria Artes Plásticas, em Nova York. "Nesse prêmio eram mais de 5000 concorrentes. Eu trabalhei com tinta pra tecido em material reciclado". Com uma semana em NY, o pintor ficou feliz em visitar museus e galerias na cidade. O estilo peculiar de Sérgio Ramos imprime em suas obras a possibilidade de a reconhecermos mesmo antes de ver a assinatura.
Jornal Novas Técnicas

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Henri Matisse

"Esforço-me por alcançar uma arte de equilíbrio, de pureza - uma arte que não desassossegue ou confunda. Gostaria que o Homem cansado, sobrecarregado, acabado, encontrasse paz e sossego nos meus quadros." Henri Matisse

no tabuleiro, um eclipse .


no tabuleiro, um eclipse .

outros santos na lenda dourada, das onze mil virgens e do anjo das anunciações: a primeira da vida, a segunda da morte. nenhuma da ressurreição.

o um das fileiras, desistido. este último, dupla sombra, é fabricante do ermo confesso,
habitante do deserto, amigo festivo e inabitável: seco, mas com água dentro.

o retrato suspenso: silêncio. gente que casa a filha.
instável a risada da velha: princesa serena.

hora terça: hermes trimegisto, o tocador de órgão no chão de ladrilhos a arquitetura da prisão em pedaços de papel: não há descortesia nisto. demasiado aleijado, infelizmente.
senhor do mundo coroado de vergonha, arrependido de coração: corpo de ofício.

tranqüilidade duradoura no campo raso: amantes pobres.
precário: deitado no chão à margem, adoração.

sujidade: de joelhos diante dos olhos, o comensal de lembranças.
o copo de água do vigia da pinacoteca. murmúrio e recato: benta artemage.

boa ocasião para aquele que escreve linhas tortas: hosana. sono pesado, verdes de inveja.
última pedra do pintor de domingo, uma possibilidade. riso súbito: aparência.
o vigarista e o piedoso em acidentais cotidianos.

dentro é um quarto: capim santo. farsa.
conversa do outros: monolitos e a carroça dos meninos: loucos de pedra.

mastigar o amolador. o artista de plástico desaparecido no espaço entre duas casas.
o aguadeiro quasi-sympático e a senhora com chapéu e sombrinha.
a guarda velha da pensão e o quebranto nos baús de queixas.

inofensivo, na rua do hospício: vaga.
no tabuleiro, mais um eclipse.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Ricardo Reis

“É como viver, nascemos, vemos os outros a viverem, pomo-nos a viver também, a imitá-los, sem sabermos porquê nem para quê.”

O Ano da Morte de Ricardo Reis, José Saramago, p.183

Alex Lipszyc


"Não acredito que a técnica suplante o “conteúdo”, mas sei que para o mercado em geral, as pessoas leigas olham para o “fazer”...vc já deve ter escutado: Nossa que trabalho! Quanto tempo vc levou para fazer isso? Que vergonha...se vc tivesse levado 5 minutos, já é suficiente para mostrar seu conteúdo..O Ser-humano dá importância ao “tempo” gasto, e não ao que a peça quer dizer, quer explorar. De qualquer maneira gostei de seu trabalho..devo até dizer que encontro uma raíz Brasileira e uma alma internacional. As imagens que vi, mostram personagens Brasileiros em situações Brasileiras e costumes Brasileiros. Vejo tb uma junção cromática e formal que revela uma preocupação em mostrar um mundo conhecido por nós, simples e alegre. Sua arte é um Koan, Hamelins e Todos os Santos, nela encontro, además da técnica, uma procura de um mundo feliz e cheio de histórias para serem contadas. Pensei até arriscar que seu “mundo pictórico”, este mesmo das intercecções/junções de imagens, pudesse ganhar este formato tridimensional...

Alex Lipszyc, diretor de marketing da associação brasileira de designers de interiores

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Sancho Pança - Sobre Vinhos


“Nisto de vinhos, basta que eu cheire qualquer, e logo lhe acerto com a pátria, com a linhagem, com o sabor, com a duração, e com as contas que há de dar. Mas não admira, que eu tive na minha linhagem, por parte de meu pai, os dois maiores entendedores que tem havido na Mancha, e como prova, eu vou dizer o que lhes sucedeu. Deram-lhes a provar o vinho dum tonel, perguntando-lhes o seu parecer a respeito do estado, qualidade, bondade ou maldade do vinho. Um provou-o com a ponta da língua, o outro só o chegou ao nariz. O primeiro disse que o vinho sabia a ferro, o segundo, que sabia a couro. Respondeu o dono que o tonel estava limpo, e que tal vinho não tinha adubo algum onde lhe viesse o gosto do couro, ou do ferro. Com tudo isto, os dois famosos provadores afirmaram o que tinham dito. Correu o tempo, vendeu-se o vinho, e ao limpar-se o tonel acharam dentro uma pequena chave, pendente duma correia.”

Teia Cronópios


Autora: G. Brahm
"Estava escrevendo meu livro Caixa de Milagres, quando conversando com uma amiga do Rio Grande do Sul, ela me disse para entrar no site Cronopinhos para observarmos como os escritores estavam divulgando seus trabalhos. Entrei e adorei o formato brincalhão e dinâmico do site. Eu tinha acabado de enviar meu livro para editoração e não tinha gostado da ilustração da capa. Não era bem o que eu esperava. Entrei então, na seção "Ilustradores' do site e fiquei absolutamente maravilhada com as ilustrações de Sérgio Ramos - conheça o seu portfolio no portal:
Resolvi entrar em contato através do site com Sérgio e só depois fiquei sabendo que ele também era mineiro, de Viçosa. A internet tem dessas coisas, é capaz de aproximar quem está distante e conectar quem está na mesma energia. Foi incrível nosso contato. Meu livro e projetos pareciam encaixar na arte de Sérgio como luva. As recorrentes fantasias que se interpunham umas as outras em mosaicos coloridos formando figuras em estilo cubista prenderam minha atenção, fazendo-me ficar absorta olhando, horas a fio, o milagre da pintura de Sérgio Ramos. Até hoje, não conheço pessoalmente Sérgio, mas sua alma vibra exatamente com o que sinto. Nosso contato é tranqüilo, dinâmico, profissional. Com apenas uma ou duas conversas acertamos os passos de nosso trabalho em conjunto. Ele se tornou o meu ilustrador predileto e agora ficou difícil separar minha obra de sua arte. Tenho receio que o leitor reclame, caso não estejamos juntos nos projetos.No momento, estamos trabalhando na ilustração de vários livros infantis: entre eles: Caixa de Milagres, Onça-Concha; As Mazelas de Lizbella, Óculos mágicos entre outros, além do meu próximo livro de poemas: Em Paralelo.Mas o que mais me prende nesse contato é a liberdade de expressão, o pouco falar e o muito sentir e o jeito desencanado, perfeccionista e criativo de Sérgio. Além do mais eu tenho certeza que um portal se abriu. Sinto isso pela forma como as coisas acontecem depois que comecei a trabalhar em Caixa de Milagres. Um milagre se sucedeu a outro e muitos artistas se juntaram contribuindo seja com a música, seja com os ritmos, com os desenhos, as pinturas ou com a arte de contar estórias,cantar, compor, dramatizar e interpretar poemas, histórias e melodias; que acabou culmiando em um belo Projeto chamado: Arte e poesia pra gente! Este projeto visa levar a arte e a poesia ao alcance de todos, tendo a poesia como a grande aglutinadora de outras artes que se chegam e compõe o grande mosaico artístico no universo que encanta as pessoas sensíveis. Costumo dizer que se os olhos e os sentidos forem tocados, facilitamos nosso grande trabalho e quem sabe os milagres serão mesmo percebidos e multiplicados. A internet neste sentido é nossa grande aliada! Através de Sérgio vim a conhecer Pipol que gentilmente entrou em contato comigo, após e-mail que lhe enviei, parabenizando pelos sites Cronópios & Cronopinhos e pelos efeitos que nos proporcionou e tem nos proporcionado a cada dia, não só como meio de divulgação, mas como um espaço diferenciado e marcante; inteligente e brincalhão que aproxima quem acredita em boas companhias, arte e comunhão de espírito."
G. Brahm é pseudônimo da escritora Regina Carvalho. Ela é também psicóloga e empresária.

"Quando olho para a arte de Sérgio Ramos algo me parece muito familiar. Sinto um efeito hipnótico. Fico olhando, olhando, olhando.... Passaria dias olhando sem me cansar! Sinto algo indescritível, mágico, que me provoca umcerto encantamento, misterioso, delicioso... Me remete a lugares, paisagens, lembranças de umtempo que não mais voltará, mas que foi muito bom!Originalidade, essência, simplicidade detalhada commuita arte! Um mosaico de boas sensações, gosto refinado,cores que revelam tons marcantes e um mundo deexperimentações que ninguém deve perder! Essa é arte de Sérgio Ramos, artista mineiro, "supergente boa", super competente, que nos premia combeleza rara, raros prazeres e uma ousadia discreta e leve de quem sabe não só fazer arte, mas mexe com a vidada Gente de forma intrigante e marcante!" G. Brahm - (Escritora do livro: Caixa de Milagres - ilustrado por Sergio Ramos)

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Exposição Galeria Quadrante Campinas SP








Um artista metafísico.

Sérgio Ramos se revela em cada traço, no espaço lúdico que constrói e que circunda tudo que cria. É capaz de conduzir o observador a um mundo imaginário, transcendente e cheio de fantasia, usando temas singelos e imagens familiares. Essa é a grande magia de sua obra.

Por outro lado, Sérgio é um acadêmico. Combina o conhecimento arquitetônico, com a percepção clássica da arte. Preocupa-se com a estrutura estética, o equilíbrio pictórico e usa de recursos da Gestalt para recriar planos, perspectivas e formas.

Arquiteto de formação, Sérgio Ramos é também designer e ilustrador, com um currículo extenso, é um vulcão criativo que faz do cotidiano objeto de inspiração para provocar uma nova percepção de mundo.

Lucila Vieira / Quadrante Galeria /Junho de 2009